Você não está sozinho.

E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia uma experiência parecida.

Giovanni Venturini

Ator, escritor, poeta, diretor, dramaturgo... Giovanni Venturini é, essencialmente, um artista nato. Paulista de 28 anos, carrega na bagagem uma série de trabalhos, como filmes, novelas, publicidades, além de um livro de poesias chamado “Anão ser”.

Giovanni viu sua vida transformada - assim como milhares de brasileiros - nas últimas semanas. Pelo fato de trabalhar na área de entretenimento, se viu obrigado a fazer uma pausa forçada e se adaptar a nova realidade.

Em conversa com a equipe da Noweb, contou sua perspectiva sobre o cenário atual, como tem vivido nos últimos dias e o que espera do futuro. 


- Qual foi o seu primeiro pensamento quando ouviu sobre Coronavírus? Você imaginou que tomaria tamanha proporção e que os impactos seriam mundiais?

Eu lembro que no Réveillon eu estava na Ilha do Cardoso, na Enseada da Baleia e lá não tem sinal de internet e TV, e os primeiros casos aconteceram em dezembro. Quando eu voltei pra São Paulo, ouvi falar sobre um novo vírus que estava na China, mas não dei a menor atenção. E começou a se agravar e espalhar pelo mundo, eu estava achando que era muito alarde para pouca coisa, eu realmente duvidei do vírus. Hoje eu sou extremamente preocupado, eu saí de casa uma vez depois do dia 16 de março, quando eu entrei em quarentena e sou super encanado, nem tanto de pegar, mas de transmitir para as outras pessoas que estão a minha volta.


- Como e quando você se sentiu impactado pela situação (direta ou indiretamente)?

Eu senti muito o impacto quando eu fui no dia 16 (de março) fazer compras para poder ficar em isolamento e vi muitas pessoas de máscaras, muitas pessoas preocupadas no mercado, prateleiras vazias, isso me deu um choque e quando eu recebi mensagens do cancelamento e do adiamento de trabalhos que estavam previstos para mim. Eu lembro também que estava tendo a Mostra Nacional de Teatro, e no dia 13 de março, eu tinha comprado ingresso para assistir um espetáculo, cheguei na porta do teatro e tinha uma mensagem dizendo que a peça tinha sido cancelada, por conta do Covid e aí eu comecei a me dar conta da gravidade, a me preocupar mais. 

<p><span>Você não está sozinho.</span></p> E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia uma experiência parecida.

- Como você se adaptou e reinventou sua profissão para enfrentar os dias de isolamento?

Eu acho que eu ainda não me reinventei e não me adaptei. Essa é uma grande dificuldade pra mim. Passei as primeiras semanas de isolamento pensando muito nisso. A minha profissão de ator requer muita gente próxima, em lugar fechado, muito contato, muita proximidade dos atores que estão no palco, plateia. Até mesmo cinema, muita gente da equipe trabalha junta, quando eu dei conta da gravidade e percebi que eu ia ficar muito tempo em casa, fiquei tentando inventar e procurar métodos de continuar trabalhando com isso, que é o que eu amo, mas confesso que eu não achei nenhum que me desse prazer e que fosse viável.

Tenho escrito bastante e uma coisa que tem me ajudado muito nesses dias são os vídeos de poesia que eu tenho feito. Eu comecei a pegar textos de outras pessoas, de outros poetas e até mesmo meus, que de algum modo se comunicam com esta situação que estamos vivendo, de solidão, de ausência, de incertezas, até de esperança, e comecei a fazer vídeos pra lançar no IGTV, no Instagram, isso começou a me dar um certo acalento no coração e me fazer bem. Esses vídeo-poesias que eu tenho feito são bem importantes pra mim nesse período. 


- O cenário atual te gerou oportunidades? Quais?

Sim, por incrível que pareça sim. Um pouco antes do isolamento eu reencontrei uma amiga e a gente conversou da possibilidade de trabalharmos juntos. Esse cenário atual reaproximou a gente. Essa vontade de fazer coisas juntos acho que amadureceu muito mais rápido. Talvez se a gente estivesse na nossa rotina ficasse só no desejo ou demoraria muito para ser realizado. Como a gente está nesse momento de querer produzir coisas, acabamos acelerando esse processo. Então a gente criou um projeto juntos, que junta fotos e textos. O projeto chama Juntar_te e em breve estará no Instagram. Fiquem de olho.


- Do que mais você tem sentido falta?

Sem sombra de dúvidas, o abraço. Tenho sentido muita falta de abraçar meus amigos, abraçar minha família, abraçar as pessoas que eu gosto. E forró também, tem me feito muita falta não poder dançar. 


- Na sua percepção, o que pode ser visto de bom neste cenário?

Acho que esse momento está permitindo um mergulho para dentro de si que é muito importante. As vezes a gente não tem tempo, e se engana muito pela nossa rotina atarefada. Acaba não parando pra observar as coisas internas, se entender, olhar pra si, olhar a sua volta e pros detalhes. Eu tenho me permitido ficar muito tempo olhando, só observando. Observando o céu, as árvores, os pássaros que vem aqui no quintal, coisas que eu não dava muito valor no dia a dia. Acho que a sua única companhia ser você mesmo e você começar a se observar mais é uma coisa muito positiva. Depois que tudo isso passar, nada vai ser como antes, como era. Eu acho que o termo “normal” já não vai mais existir. Aquele normal que existia vai ser outro. A percepção das pessoas, o entendimento de vida das pessoas e valorização da liberdade e a valorização de coisas pequenas vai ser outro. 

<p><span>Você não está sozinho.</span></p> E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia uma experiência parecida.
<p><span>Você não está sozinho.</span></p> E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia uma experiência parecida.

- Você acredita que, de forma geral, a Educação Financeira poderia ter minimizado os impactos?

A Educação Financeira, desde o macro até o micro, poderia sim ter minimizado os impactos, se a gente tivesse essa consciência do coletivo, desde o Governo até o cidadão individual, o indivíduo como pessoa, e o seu ambiente, a sua sociedade em que vive, sem dúvida os impactos seriam menores. Acho que as coisas estão mudando, eu tenho muita esperança de a gente vai ter uma consciência muito melhor do que é necessário e de como colaborar, contribuir e dividir com o outro.


- De que forma você acredita que pode influenciar as pessoas a sua volta (e seguidores) a lidar com as mudanças que ocorreram nas últimas semanas?

Engraçado isso, porque eu não me vejo como um “digital influencer”. Eu esqueço as vezes que eu tenho tanto seguidor e nem é a minha meta, as redes sociais. Claro que é muito bonito e muito gratificante terem tantas pessoas que te seguem, te acompanham, acompanham seu caminho, sua arte. E eu acho que nesse momento, o que eu mais tento passar não são as notícias que todo mundo tem acesso, todo mundo está vendo o que está acontecendo no mundo, na política. Eu tento trazer a arte, de uma forma que traga esperança, que valorize o processo artístico. Eu acho que as pessoas estão se dando conta de como é importante a arte principalmente nesse momento. Assistir filmes, séries, e como faz falta ter esse contato mais presencial com a arte. Tento trazer mais esperança mensagens positivas, e tem dado um efeito muito bom. Eu tenho recebido mensagens lindas de pessoas que tem assistido aos vídeos, agradecendo por estar postando. Eu acho que é mais nesse sentido de companhia e boa companhia, mensagem positiva, de arte, para ocupar esses espaços que nesse momento são tão grandes. Eu faço isso muito mais pra mim, do que para os outros, mas que bom que atinge muitas pessoas e tem dado resultados positivos pra outras vidas também.  


- O que mais te motiva na sua profissão?

São tantas coisas que me motivam na minha profissão, mas eu acho que é saber que eu escolhi e que eu faço o que eu realmente amo. Eu não consigo me imaginar em outra profissão que não seja artística, que não seja de ator, roteirista, dramaturgo, escritor, poeta, diretor. E olha que lindo as possibilidades que eu tenho na minha profissão. Eu não sei detalhar exatamente o que mais me motiva, mas eu acho que a satisfação em fazer algo que eu realmente amo e ser feliz fazendo isso, e sem dúvida a resposta do outro, de como isso atinge a vida do outro.


- Qual a sua perspectiva de futuro frente ao cenário atual e em quanto tempo você acredita que será possível restabelecer sua rotina?

Eu  me considero um otimista, muitas pessoas têm pensado que as coisas só vão voltar ao normal no ano que vem, e eu acho que não existe mais esse “normal”, que essa rotina não vai mais ser restabelecida, eu acho que a gente vai criar novas rotinas, a gente vai entender como é esse novo modo de viver. E que bom, que bom que a gente está vivendo essa nova era que está vindo. Eu acho que o cenário mundial vai ser afetado, eu acho que as coisas voltam a caminhar de um modo diferente muito em breve, antes do fim do ano. Falando da minha profissão, talvez ela se reinvente mesmo, eu acho que vai demorar um bom tempo pra gente abrir os teatros, pra poder ter tantas pessoas juntas, em um local tão pequeno, com tanto público, elenco, equipe técnica, é um espaço pequeno pra muita gente. Então isso talvez demore, ou até se reinvente, seja feito de um outro meio. Eu acho que novas rotinas vão ser estabelecidas. e isso é um entendimento mesmo, dessa nova era, desse novo método de se viver! 


Contatos do entrevistado: 

www.giovanniventurini.com.br

@giovaniventurini